Uma festa literária em contínua expansão

Um dos maiores sonhos do festival do livro infantil da kulemba (flik), organizado pela associação com o mesmo nome, é a sua expansão por todo o país, pois, no seu espírito de activismo, os curadores acreditam ser possível pensar num país onde a leitura não é um privilégio reservado a uns e outros.

O festival começou na Beira, capital de Sofala, o que, de certo modo, é já uma proeza, sobretudo diante duma situação em que muito se discute a necessidade de descentralização de actividades culturais no país. Neste sentido, um dos maiores desafios dos curadores é desenvolver acções que deixem cair por terra a ideia segundo a qual “todos os eventos só acontecem na capital Maputo”.

Esta desconstrução já iniciou, na própria Sofala, visto que o festival começou a expandir-se para outros distritos. Deste modo, saiu da capital e desafiou os participantes e não só a pensar esta província como uma área mais extensa.

Assim, nos últimos anos, a Kulemba tem organizado concursos literários destinados a estudantes de todo o país, que incluem, entre os prémios, a realização de um safari no Parque Nacional da Gorongosa, no distrito com o mesmo nome.

Nesta 5ª edição, que irá decorrer entre 13 e 18 de Junho, chegarão ao Parque Nacional da Gorongosa os primeiros classificados do prémio de declamação de poesia, destinado aos alunos do ensino secundário, do concurso de conto, para o mesmo grau, e de ilustração, que incluem o nível primário.

Os primeiros classificados ganharão livros, sendo que, no caso da ilustração, o selecionado ilustrará o infanto-juvenil “A Revolução dos Bichos”, do escritor Miguel Ouana, o patrono desta edição. Os concorrentes são desafiados a ilustrar um trecho da mesma obra. Os prémios de conto e declamação de poesia culminarão ainda com a publicação de antologias reunindo, em cada, os 10 melhores trabalhos. As declamações estarão em formato discográfico.

Uma das coisas mais interessantes, voltando aos safaris, é a aventura que se dá num dos parques mais representativos de Moçambique e da África Austral e a possibilidade de os vencedores dos concursos do FLIK viajarem com um acompanhante. Acrescenta-se ainda o facto de, conforme se presenciou ano passado, o laureado raramente ser do distrito de Gorongosa, onde está localizado o parque. Ou seja, a expansão desta festa literária infantil também pode ser pensada no sentido de atrair potenciais turistas ao parque, isto é, levar o país à Sofala.

Fora disso, o país e não só já frequentam a capital provincial por ocasião do festival. Só este ano, são esperados no FLIK mais de 20 autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Tudo acontecerá como na última edição, em que os participantes se fizeram a Beira por via presencial e virtual, devido às restrições causadas pela pandemia do novo coronavírus, o que carrega a ideia de o evento ser mais famoso do que pode aparentar, afinal através da internet alcança-se o mundo.

A isso alia-se ao fundamental papel da imprensa, afinal falar do Festival do Livro Infantil da Kulemba é abordar um dos eventos literários de maior atracção mediática do país.

COM SABOR A CRAVEIRINHA

Uma das coisas mais interessantes deste ano é uma abordagem prática que os curadores têm sobre a expansão do FLIK, isto é, estão em negociação com duas instituições para que o festival também aconteça fora de Sofala. Este sonho não está longe de se concretizar, pois Dany Wambire, o Director do FLIK, garantiu que a presente edição aterrará na Cidade de Maputo.

Estará na capital onde José Craveirinha, o poeta-mor de Moçambique e o primeiro africano a conquistar, em 1991, o “Camões”, o prémio literário mais importante da língua portuguesa, avaliado em 100 mil euros.

O autor de obras como “Xigudo”, “Babalaze das Hienas” e “Maria” é aqui chamado porque os festivais do Livro Infantil e do Livro da Beira, ambos organizados pela Kulemba, este ano, celebrarão esta que é a maior figura da poesia moçambicana e um dos nomes mais importantes da CPLP, por ocasião da passagem, a 28 de Maio, dos 100 anos do seu aniversário natalício. Neste sentido, os poemas do concurso de declamação deverão exaltar José Craveirinha. Conversas e exposições também fazem parte do vasto programa de homenagens.

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