“O FLIK deu-me uma nova família”

Quando Micaela Sandoca concorreu ao concurso literário flik 2021, ano passado, tinha 17 anos de idade. Nessa altura, frequentava a 12ª classe, na escola secundária heróis moçambicanos e, fazendo uso do seu poder criativo, escreveu a história “rapaz ambulante”. Essa narrativa, na verdade, valeu à menina de tete a terceira classificação no concurso. No entanto, mais do que um prémio, o que mais marcou à pequena autora foi a possibilidade que teve de ampliar o número de pessoas por quem comunga do mesmo afecto. “o flik deu-me uma nova família: as minhas colegas que estiveram no concurso de declamação de poesia e literário”.

Para a menina que hoje tem 18 anos de idade e que se encontra a tirar um pequeno curso em Secretariado e Administração de Escritórios, enquanto aguarda para concorrer à universidade, próximo ano, poder conhecer novas pessoas, por causa da arte literária, foi especial. Claro, isso deu sentido ao prémio, pois, de outra forma, não teria com quem partilhar os seus textos que antes apenas limitavam-se a empoleirar as gavetas de casa. Com essa nova família, as coisas mudaram e ainda bem: “Quando escrevo os meus textos, agora, tenho a quem mostrar e a quem pedir ajuda. Antes, não tinha com quem partilhar. Apenas escrevia”. Também por isso, a experiência de participar no FLIK 2021 foi transformadora, pois teve a grande  oportunidade de se mostrar aos leitores – o texto de Micaela Sandoca está publicado no livro O romper da aurora (Fundza – 2021). Sem receios. Além disso, Micaela Sandoca, menina simpática, de riso fácil, confessou que, por causa da literatura, teve a possibilidade de conhecer o Parque Nacional da Gorongosa, que, antes, só via nos livros. A aventura que fez na companhia do irmão mais velho foi tão marcante que superou o fascínio de ver tantos bichos juntos. O safari em Gorongosa foi a cereja em cima de um bolo delicioso. Mas teve mais. Por exemplo, um kit de livros. “Eu nunca tinha pensado em ganhar livros de Mia Couto e de outros escritores. Isso significou muito para mim”.

Quase um ano depois, a memória do FLIK e das suas experiências continuam bem presentes em Micaela Sandoca. Aliás, a aventura ao Parque Nacional da Gorongosa está a ser útil para o actual processo criativo da pequena escritora de Moatize. E houve uma lição: “O FLIK mostrou-me que o meu esforço e o meu compromisso pela escrita podem-me garantir excelentes resultados um dia”.

Pensando nas lições e na família que ganhou em Gorongosa, Micaela Sandoca partilha que continua a escrever e a ler, e recomenda: “Que o FLIK não deixe de incentivar às crianças e aos adolescentes a participar em futuras edições”.

Micaela Sandoca começou a escrever aos 14 anos de idade, quando se encontrava na 9ª classe, sem que o pai fizesse ideia disso. Quando soube que a filha, afinal, tinha iniciado um percurso literário, e já com uma terceira classificação no FLIK, ficou agradavelmente surpreendido. E o meu pai disse-me que o que escrevemos pode nos ajudar”.

“O FLIK ensinou-me que é possível voar sem asas”, confessa Cynthia Garcia.

“Sonho ou pesadelo” é o título do conto que, ano passado, permitiu à Cynthia Garcia ser a segunda classificada no Concurso Literário FLIK 2021. Essa é uma história intensa, sobre os dramas do terrorismo em Cabo Delgado, uma história verosímil que retrata o medo e o caos ao mesmo tempo que ficciona eventuais significados da palavra terror no quotidiano das populações humildes.

Pensando na repercussão da sua história e no que a permitiu, Cynthia Garcia considera: “eu diria que a minha participação no FLIK foi tão especial quanto poderia ser”. Sem hesitar, a menina que participou no concurso quando tinha 16 anos de idade revelou que graças à iniciativa da Associação Kulemba aprendeu “que é possível voar sem asas e escalar grandes montanhas sem ter pernas”. No entanto, o seu principal objectivo, ao submeter o texto “Sonho ou pesadelo”, longe de ganhar o prémio, era o de saber se se encontrava no caminho certo, no que à escrita literária diz respeito. A resposta à questão que Cynthia Garcia se colocou, felizmente, surgiu em dose dupla. Na verdade, a menina que vive na Cidade da Beira não só distinguiu-se no Concurso Literário FLIK 2021, bem como ficou em quarto lugar no Concurso de Declamação de Poesia. “Eu costumo dizer que o FLIK me deu asas para poder mostrar e espalhar poesia e contos em qualquer lugar. Além de realizar o meu sonho, fez-me sonhar mais alto e mostrou-me o caminho que eu devo percorrer”. Também por isso, Cynthia Garcia adiciona: “Eu acho que é uma grande oportunidade que a Associação Kulemba nos disponibiliza. Então, todos devemos aproveitar essa porta aberta para mostrar os nossos talentos e espelhar coisas boas para outras crianças”.

Entre a arte narrativa e da declamação, Cynthia Garcia – que, à semelhança de outros melhores classificados, teve a oportunidade de visitar o Parque Nacional da Gorongosa – vai trilhando o seu caminho, perseguindo o sonho de ser escritora ao mesmo tempo que se vai construindo no Ensino Secundário Geral. Actualmente, aos 17 anos de idade, frequenta a 12ª classe, na Escola João XXIII, na Cidade da Beira.

A relação da menina de 17 anos com a literatura inicia em casa. “Os meus pais sempre me ofereceram livros”. E assim, surgiu o sonho de querer ser escritora, afinal: “Escrever, para mim, é como respirar. Não é preciso gostar para fazer. É preciso fazer para viver”.

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