É sempre um prazer enorme estar aqui nesta casa de artes que nos últimos tempos tem servido de moradia de vários artistas nacionais.
Estou habituada a chegar neste lugar para fazer cobertura e entrevistar os artistas e apresentadores das obras, mas, hoje, o cenário é diferente e os papéis inverteram-se.
Mas afinal, quem é Larsan Mendes? Quem é essa mulher-menina que hoje nos chama para o amor?
Conhecemo-nos cá em Maputo. Ela vindo de Macia e eu de Quelimane. As duas vínhamos à capital com o objectivo de representar as nossas províncias na Gala de Premiação dos Melhores Estudantes do País, em 2013.
O destino voltou a unir-nos e reencontramo-nos na residência universitária da UEM. Admitimos, ela para engenharia florestal e eu para o jornalismo. Mas Larsan sempre gostou de desafios e concorreu a uma bolsa de estudo e foi a Rússia.
Larsan Mendes é o pseudónimo de Néusia da Larsane Abílio Pelembe. Nasceu a 9 de Dezembro de 1995, em Bilene-Macia, Província de Gaza. É formada em Engenharia de Petróleo e Gás, pela Universidade de Mineração de São-Petersburgo, Federação Russa.
O seu amor pela escrita vem desde muito cedo. Aos 14 anos, enquanto frequentava o ensino secundário, descobriu o seu lugar na escrita. Desde então, nunca parou.
Em 2017, escreveu a sua primeira obra, intitulada “Além do desejo”, que, posteriormente, foi publicada na plataforma digital Wattpad para escritores iniciantes e veteranos. Não mais parou, o tipo certo, Ukati-Meu Lar e uma razão para continuar são exemplos disso.
A obra hoje a ser lançada, “O amor que há em ti”, foi menção honrosa na terceira edição do Prémio literário Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM/ Eugénio Lisboa).
Este romance de narrativa envolvente, que nos chama ao amor, ajuda-nos a defini-lo de formas diferentes. Um amor que, por vezes, se manifesta de maneira egoísta ou obsessiva e encontra as pessoas em lugares e tempos inesperados.
Há Caminhos que se cruzam que levam a médica Ana Maria e o advogado Mateus Xalica a nos conduzirem a um mar de mistérios e revelações. Estes dois, que viviam vidas diferentes, sonhos e metas, e até mesmo relações de amor, são convidados a um encontro inusitado do destino.
Detalhista, cada personagem é único e merece toda a descrição que nos faz viajar e sair das páginas em direcção à vida real.
Mendes fala do amor nas suas diversas metamorfoses: o amor entre irmãos, entre pais e filhos, entre amigos ou até mesmo entre casais.
Em aproximadamente 350 páginas distribuídas em 38 capítulos, de “caminhos cruzados” a “perdão amor”, o verbo amar é aqui conjugado em um tempo e espaço marcado por mentiras, verdades e revelações.
A moçambicanidade ganha vida quer pelos nomes, Joaquim Mabungo, quer pelos sons que ecoam no texto, como “Cão de raça”, de Azagaia, ou pelas experiências que nos são comuns no dia-a-dia, como andar de chapa. Mendes fala de amor amando Moçambique, as suas gentes e a sua cultura.
Com o amor, Larsan Mendes faz deste romance um verdadeiro mistério. É quase impossível prever o próximo passo dos personagens ou o que cada um esconde. Como termina esta estória? Talvez não termine, talvez “O amor que há em ti” seja como o verdadeiro amor, cheio de dúvidas e ao mesmo tempo certezas, repleto de surpresas esperadas, com perguntas retóricas. Talvez as respostas partam da leitura individual. Mas será que há respostas para as constantes perguntas do amor que há em nós?
Talvez o milagre da leitura da obra nos possa ajudar a dar resposta a todos os nossos questionamentos.
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