Direitos humanos e patriotismo aquecem mesa de conversa da Associação Kulemba

A Associação Kulemba promoveu, no dia 16 de Novembro passado, a sessão de conversa de reflexão sobre como as questões dos direitos humanos e de patriotismo são vistas ou interpretadas, actualmente, pela sociedade. O evento, que decorreu na Beira, na Livraria Fundza, estava subordinada ao tema “Uma reflexão sobre os direitos humanos e patriotismo na actualidade” e inserida dentro da celebração do Dia Internacional da Filosofia.

A conversa, que contou com a presença de estudantes e docentes de diferentes instituições universitárias e do público em geral, tinha como convidados Samuel Miquissene, Sávio Malope, Tomé Mutombo e Teotónio Pio, este último na qualidade de moderador. 

Samuel Miquessene, docente e Mestre em Ciências Jurídico-forense, entende que “o amor à pátria será sentido de formas diferentes de acordo com vários factores. Por exemplo, a pessoa que está a passar por dificuldades não vai ter um sentimento patriótico elevado quando comparada com uma outra pessoa que está em condições mais ou menos boas ou mesmo boas”.

Miquessene avança ainda que “patriotismo é mais um elemento material do que sentimental”. Ele vai mais longe ao perguntar o seguinte: “patriotismo é falar bem da pátria? Patriotismo deve ser como casamento no qual há momentos bons. Há dificuldades. Mas o casamento, mesmo assim, permanece”.

Já Tomé Mutombo, Doutor em Ciências Políticas, afirma que “não se pode ter amor à pátria por conta do que nos ensinam para amá-la. Isso é amor externo. Deve se amar à pátria por aquilo que ela é. Este tipo de amor é interno”.

Seguidamente, ele recordou que “há quem usa o patriotismo como forma de manipulação política. Falou-se de combate à pobreza, revolução verde, amor à pátria. Afinal, vimos, no fim, o que aconteceu com as dívidas ocultas” .

Sobre a conotação dos críticos, Mutombo sublinha que “criticar também é ser patriota. Criticar sobre corrupção, a qualidade da educação, roubo de votos é ser patriota. Não falar sobre isso é não ser patriota. Assim, podemos ser patriotas por criticar o que está errado”.

Por sua vez, Sávio Malope, Doutor em Filosofia Política, questiona sobre quem são os que são chamados de patriotas. “Existem uma designação que é outsider. Quem são os antipatriotas? Pergunta, tendo respondido que “são os que estão fora do projecto maior. Estão contra a ideia do grupo. Isso não pode ser nenhum problema, pois sempre há pessoas que não se identificam com o projecto maior. Esse grupo é muito importante, uma vez que faz parte do debate sobre a construção do país”.

Em relação aos direitos humanos, Miquessene entende “é possível ser patriota e respeitar os direitos humanos. O conflito destas duas áreas vai, sim, acontecer nos momentos excepcionais. Há momentos em que vai matar alguém por amor à pátria. Quando isso acontecer, devemos, logo, concluir que o patriotismo não se cruza com os direitos humanos”.

Sávio Malope realça que “as organizações não-governamentais de direitos humanos são rotuladas como antipatriotas por uma razão muito simples. É que os Estados, muitas vezes, violam os direitos humanos e não querem críticas, pois sabem que isso pesa muito na balança internacional”.

Mutombo, por sua vez, diz que “os políticos não querem ser criticados. Quem viola os direitos humanos é o Estado. Quando isso acontece, cria-se bloqueio da imagem do país lá fora. Mesmo sabendo que estão a violar chamam-nos de antipatriotas porque estamos a criticar. Tudo isso é para salvaguardar os interesses deles e não do país”.

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