O festival do livro infantil da kulemba (flik), na sua quarta edição, podia não ter acontecido ano passado e a culpa seria da pandemia do novo coronavírus. Entretanto, a pandemia não conseguiu parar a festa que em junho faz da beira capital da província de sofala e centro literário da CPLP.
Contrariamente, a COVID-19 desafiou a curadoria a apostar na metamorfose e nas vias alternativas. Deste modo, o FLIK aconteceu nos formatos presencial e virtual. No entanto, a nostalgia não desapareceu por completo, afinal estes encontros têm mais graça quando o abraço é físico.
Não se pode negar, ainda assim, que a internet é uma janela aberta ao mundo. Portanto, através das redes sociais da Kulemba, Fundza, “Camões” e FLIK, mais autores e leitores juntaram-se à festa literária, até porque este é dos pontos destacados por alguns participantes, cuja aposta por plataformas como Facebook, Zoom Cloud Meeting, Whatsapp e YouTube fez deste evento mais abrangente.
Foi desta forma que, sem sair fisicamente do Brasil, a escritora Ninfa Parreiras chegou a Sofala e conversou com um grupo de alunos do Distrito de Gorongosa.
“Em plena pandemia, participar do FLIK, de modo virtual, foi um luxo”, elogiou Ninfa Parreiras, que, por esta via, partilhou o mesmo barco com vários autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“Poder trocar impressões com o público moçambicano sobre literatura foi uma experiência inesquecível. Ouvir sotaques da mesma língua, um ritmo bom de falas, palavras desconhecidas, impressões das crianças e jovens sobre o caminho para escola, tudo isso me aproximou do mar do Índico”, acrescentou.
Contou que, embora resida no Estado brasileiro de Minas Gerais, sentiu que há um pouco dela na Gorongosa. “Ficamos tão próximos que cheguei a pensar que estávamos na mesma sala, não havia paredes, nem interferências”, afirmou.
Esta aproximação, de certo modo, não é inédita, pois, já em Minas Gerais, teve a oportunidade de conviver com moçambicanos. Por isso, “estar trocando leituras e conversas é o primeiro passo para eu chegar ainda mais perto dessa nação tão linda que é Moçambique”.
Quem também não precisou de se deslocar fisicamente para chegar a Beira é a cabo-verdiana Lu Breda, que, embora a sua convivência com o país tenha décadas, sente um prazer especial a cada momento de partilha de experiências com os seus pares do Índico.
Portanto, a última edição do FLIK não deixa de ocupar um lugar especial nas suas lembranças. “Foi um enorme prazer e privilégio ter participado neste enorme festival”, disse logo após uma conversa com os alunos.
E porque para a autora é sempre bom abordar histórias de livros infantis em língua portuguesa, espera presenciar a quinta edição. “Que consigam um encontro presencial um dia desses”, encorajou.
Por seu turno, a escritora Vania Óscar, residente na Beira, e, portanto, uma das principais anfitriãs, referiu que o FLIK expõe o melhor da literatura infanto-juvenil em língua portuguesa, embora não faltem propostas para adultos e outras expressões artísticas.
Um dos maiores méritos do festival, considerou, reside no facto deste estar sediado na Beira, fazendo desta cidade, ainda que ocasionalmente, uma capital da escrita para os mais pequenos.
“É uma iniciativa importante, bonita e pioneira, porque grande parte destas actividades acontece na capital do país, então ter um evento desta magnitude a realizar-se fora de Maputo é uma oportunidade para fazer com que o público beirense aprecie esses programas e interaja com autores locais e não só”, explicou. A autora do infanto-juvenil “A Formiga Mimi e a sombra que acabou” acha interessante a ideia de estarem a aparecer mais autores jovens e acredita que da próxima mais mulheres embarcarão nesta e outras festas.